A Função da Família na Educação
É
imprescindível que as crianças para se tornarem cidadãos instruídos,
precisam de uma boa formação escolar. Isso é possível quando se
encontram com professores desejosos de transmitir o que sabem para,
assim, desenvolver no aluno um desejo de saber, o que é lido como
curiosidade e investigação para aprender.
A
escola representa um lugar de emancipação da criança a respeito de
seu grupo familiar, onde a criança vai poder estar e falar com outros
além de seus pais. Sendo um campo onde ela estabelece outros laços que
lhe possibilitam receber recursos que poderá utilizar no futuro: com
outros semelhantes, na escolha de profissão, etc.
Dito
isso, fica claro que a escola propicia a socialização da criança,
mas, é a família e sua função um dos maiores responsáveis pela
educação e desenvolvimento dos filhos. Até para que a Educação
pedagógica possa ser efetivada, para que ela tenha eficácia, depende
da estrutura familiar do aluno.
Quando
a família valoriza os estudos - a aprendizagem - estimula no filho o
mesmo. O interesse dos pais no que seus filhos produziram, aprenderam,
faz com que eles (filhos) sintam-se valorizados em relação ao que
fizeram.
O
gosto pela leitura, a curiosidade em saber, em descobrir são
homólogas a outras curiosidades e não estão desvinculadas da
curiosidade sexual. Mas em muitas famílias o sexual é um assunto
proibido e, dependendo do grau de dificuldade em falar sobre esse
assunto, isso aparecerá na dificuldade da criança em ter outras
curiosidades, incluindo a de saber em sala de aula.
As
garatujas, os rabiscos, os desenhos e as letras são produções que
primeiramente são endereçadas ao Outro – entenda-se, por Outro, a mãe e
o pai ou aquele que tem a função de cuidar e ensinar à criança. E vai
depender de como vai ser o acolhimento disso, o que a criança fará
depois. Se vão continuar produzindo ou se sofrerão inibições,
impossibilidades de continuar descobrindo, evoluindo e fazer
associações com a família das letras.
Sabemos
que quando algo não vai bem na esfera familiar, os sintomas aparecem
na escola, tais como: as dificuldades de leitura, de aprendizagem;
dificuldades em disciplina, o que chamamos limites, na participação em
grupos, etc.
A
aquisição da leitura, portanto, é um processo que depende da passagem
por outras fases: primeiro tem lugar os rabiscos, os traços no papel
onde somente a criança pode dizer o que desenhou. Pois o traço no
papel representa a estrutura psíquica dela e é homóloga a uma
assinatura. Por esse motivo o desenho de uma criança não se confunde
com o de outra. Depois, temos as formas até chegar às letras, as
sílabas e por fim as frases e seu encadeamento.
E
o desenvolvimento desse processo dependerá da estrutura familiar.
Dependência, que está vinculada aos limites, à possibilidade de que
estejam operando em casa, para que isso seja possível.
Um
lar desestruturado, sem limites, sem condições básicas, atrapalha o
desenvolvimento escolar da criança. Uma dificuldade escolar - seja ela
qual for - geralmente está camuflando outras dificuldades, o que
chamamos de sintomas emocionais. Por que tem um conflito emocional, a
criança apresenta em seu corpo e comportamento aquilo que não está
podendo ser dito em palavras.
Encontro
em minha experiência de psicanalista, crianças com sérias
dificuldades escolares e, nas entrevistas com os pais, descubro que
existem outros problemas. Dificuldades no casal parental, em relação
ao nascimento de um filho, dificuldades no trabalho, algumas vezes uma
doença na família, uma mudança, etc. Portanto, á maioria das
dificuldades que as crianças apresentam são provenientes de sintomas
dos pais. Acontecimentos que os pais ou um deles não está conseguindo
resolver e isso é transmitido aos filhos.
“O pensamento não é autônomo, é por sua articulação com o desejo, que o sujeito se reconhece autor de seu pensamento”.
A
criança quando não tem dificuldades de ler ou escrever, de fazer uso
das letras, de mostrar o que sabe, geralmente é porque está convivendo
em uma boa harmonia familiar, quando não tem obstáculos em suas
relações familiares.
Mas
também, é fundamental que os ensinantes, os educadores, tenham uma
boa formação, conhecimentos e desejo para transmití-los aos seus
alunos. Um professor com pouco desejo terá pouca ou nenhuma
possibilidade de transmissão, pois ele não “contagiará” seu aluno, se
ele não tiver causado.
Em
contrapartida, encontramos exemplos de alunos que têm bons
professores, escolas e condição ambientais favoráveis (materialmente),
mas não se desenvolvem como esperado, pois a causa reside em
conflitos familiares. Podemos encontrar pais que não se interessam por
seus filhos (porque acreditam que eles vão para a escola para
brincar); brigas na família; doença em algum familiar; pouca
expectativa no filho, crianças muito mimadas. Enfim, a relação pode ser
extensa.
Podemos
encontrar um exemplo bem comum que é, quando os pais passam por um
processo de separação, os filhos apresentam dificuldades escolares. E
dependendo de como os pais vão fazer, como falarão com seus filhos,
estes poderão deslocar ou extinguir os sintomas. Sendo muito
importante que eles falem com seus filhos, que expliquem o que lhes
aconteceram para tomarerm tal decisão.
O
que mais encontramos são famílias que não querem falar sobre o
assunto, calam-se e o não saber sobre sua história, desloca-se para o
não-saber em sala de aula.
Atendi
uma garota de 4 anos que não conseguia aprender na escola e quando
fui atender aos pais e fazer as entrevistas, descobri que ela ainda
era tratada e cuidada como um bebê; usava fraldas, tomava mamadeiras, chupava chupeta e não conversavam com ela, “pois achavam que ela não entendia”.
A consequência disso foi o fracasso que a garota tinha na escola
“pois os bebês não podem fazer coisas relativas à criança de 4 anos”. À
medida que esses pais foram tratando sua filha como uma garota capaz,
ela foi se desenvolvendo na escola.
Para
concluir, quando algo não vai bem em sua casa, quando a estrutura
familiar não possibilita harmonia, ou quando os pais não se interessam
pelo que seu filho faz, o reflexo disso aparecerá na atividade
escolar. Poderá até - em alguns casos - aprender as letras, aprender a
escrever, mas não conseguirá estabelecer laços nem com o professor,
nem com os semelhantes. Poderá com muito custo e dispêndio atravessar
sua fase escolar.
Como
disse acima, na escrita a criança se mostra, é sua imagem que ela
representa no (rabisco) garatuja, traços, formas e letras, porém, se
tem algo que não vai bem em seu psíquico, se ela tiver algum
sofrimento emocional, muito provavelmente terá dificuldades na escola.
Geralmente
a problemática familiar já existe, mas a entrada da criança na escola
vai revelar o mal estar subjacente, pois é o momento em que ela vai
se mostrar para os outros, que vai ter que organizar-se para poder
aprender ás letras, dirigir sua pesquisa para outro saber, não somente
o saber sobre o sexual, nascimento dos bebês, teorias sexuais
infantis, mas, o saber dirigido ao intelecto.
E
como esse comportamento - dificuldade escolar - aparece no meio
social, os pais sentem-se pressionados para procurar uma ajuda.
Existindo, porém, uma grande dificuldade em pedi-la, como se isso
atestasse que eles falharam. O que eu fiz? Será que não é um problema
de adaptação? Perguntam.
A
escola muitas vezes fica em um impasse, pois sabem que algo não está
bem com a criança, mas, sabe da dificuldade de alguns pais em aceitar
que a criança ou eles precisam de uma ajuda. Porém, é imprescindível
que fiquem atentos para os sintomas escolares que seus alunos
apresentam, que os questionem, investigue sobre a história familiar,
que não coloquem uma mão simbólica em cima, que faça seu aluno falar,
para que eles possam colocar em palavras o que ele está mostrando em
ato.
Andreneide Dantas