O MEDO NA SALA DE AULA
Alunos desmotivados, infra-estrutura escolar precária e professores despreparados são apenas alguns dos ingredientes que nos alertam para a indisciplina escolar que, de um inicial desrespeito as regras regimentais tristemente evolui para situações de violência e de risco que faz com que muitos professores agreguem o medo aos desafios que enfrentam.
E os números confirmam com transparência esse quadro: quatro em cada dez das melhores escolas públicas de São Paulo registram casos de violência e a proporção cresce para seis em cada dez entre escolas com o desempenho mais fraco no Saresp. Além de dados regionais, pesquisas da International Stress Management e Unesco destacam que 46% dos professores brasileiros apontam a indisciplina em sala de aula como sua maior dificuldade pedagógica e cerca de 52% admitem que convivem diariamente com ironia e desrespeito, em escolas onde depredações, roubos e pichações constituem fatos da rotina. Colocar em dúvida a existência desse problema é impossível e, assim, o que de mais urgente se procura são algumas soluções.
O pequeno quadro abaixo as sintetiza. Na coluna da esquerda as essenciais características de escolas que apresentam problemas de indisciplina e violência e na coluna ao lado, os elementos que marcam as atividades pedagógicas em escolas onde o problema disciplinar é contornado sem conflito. Transfira os fundamentos desses estudos para sua escola e perceba com são nítidas as raízes do problema:
GRAVES PROBLEMAS DISCIPLINARES
- PROBLEMAS DISCIPLINARES IRRELEVANTES
- AUSÊNCIA DE INFRA-ESTRUTURA MÍNIMA – CLIMA EMOCIONAL PRODUTIVO.
- ATIVIDADES PEDAGÓGICAS SIGNIFICATIVAS, MAS PRAZEROSAS
- PROFESSORES DESPREPARADOS PARA USO DE RECURSOS E UTILIZAÇÃO DE NOVAS ESTRATÉGIAS DE ENSINO
- PROFESSORES EXPERIENTES E DEVIDAMENTE QUALIFICADOS
- CHOQUE DE GERAÇÕES E DE VALORES ENTRE ALUNOS E PROFESSORES
- FORMAÇÃO SOCIOLÓGICA E ANTROPOLÓGICA DOS PROFESSORES PARA COMPREENDER AS NOVAS GERAÇÕES
- ENVOLVIMENTO FAMILIAR INTEGRAL NO PROCESSO DE ENSINO, APRENDIZAGEM E RESPEITO
- PAIS QUE EFETIVAMENTE APRENDEM E APLICAM UM PROGRAMA SIGNIFICATIVO.
- QUANTIDADE DE ALUNOS POR SALA
- SALAS DE AULA QUE DIFICULTAM O ISOLAMENTO CULTURAL DO ALUNO.
- RELAÇÃO ALUNO X FUNCIONÁRIOS ADMINISTRATIVOS E EDUCADORES
FUNCIONÁRIOS ADMINISTRATIVOS QUE SE FAÇAM EDUCADORES
Na coluna à esquerda aparecem cinco razões apontadas nas pesquisas como causas mais comuns da violência escolar e na coluna da direita, soluções encontradas por escolas que viveram o problema disciplinar e o superaram pelo emprego das medidas propostas. Percebe-se, dessa forma, que os registros de violência são freqüentes e o medo aterroriza os professores principalmente quando inexiste na escola uma infra-estrutura material e de recursos favorável a um clima emocional produtivo, quando os professores se apresentam despreparados tanto do ponto de vista pedagógico, como sobretudo de uma visão sociológica e antropológica que atenua o choque de gerações e mais ainda quando a família não se envolve, as salas não se apresentam abarrotadas e existem funcionários administrativos em bom número e adequadamente preparados para compreender o mundo jovem e intervir com serenidade e com segurança.
Entre as razões apontadas, cabe destaque especial e surpreende a relação entre elas com a preparação de professores e funcionários, não apenas para um trabalho realista, motivador e interessante, mas também para fazer da escola dos alunos, uma escola de pais, ensinando-os a verdadeiramente descobrir e conhecer seus filhos, seus amigos e os pais dos amigos de seus filhos. Caso existam investimentos – e não são muito onerosos – para essa melhor adequação familiar e docente, o problema da infra-estrutura escolar assume peso significativamente menor.
Ainda uma vez nessa breve análise de causas e soluções se retorna a tradicional fábula da assembléia dos ratos. Colocar um guizo no pescoço do gato é imprescindível ajuda, resta apenas definir quem assume esse imprescindível papel.
Celso Antunes
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"Diz-se que o homem vale pelo que sabe, mas vale mais aquele que sabe como dizer aquilo que sabe."Edmundo de Amicis